A surfista profissional Silvana Lima e a jornalista Claudinha Gonçalves falam sobre a trajetória do surf feminino e seu legado após as Olimpíadas de Tokyo 2020, em episódio especial no podcast Jeep + Flamboiar, apresentado pela jornalista Carolina Bridi.
Silvana e Claudinha são da mesma geração do surf feminino, que ficou marcada pelo corte repentino de campeonatos nacionais, retirada de investimentos e foi brutalmente atingida pelo machismo da mídia que buscava modelos, e não atletas.
Silvana insistiu na carreira de atleta profissional, com muita luta e pouco apoio, aos 36 anos foi a surfista brasileira mais bem colocada nas Olimpíadas. A atleta foi duas vezes vice campeã mundial, é a maior surfista do Brasil nos últimos 20 anos, se tornando a principal referência da nova geração.
Já Claudinha optou por um caminho diferente, ela se encontrou no free surf e no empreendedorismo. A jornalista seguiu carreira na mídia e na TV, e também aos 36 anos foi comentarista do surf nas Olimpíadas pela SPORTV.
Vindo de contextos e regiões diferentes, Silvana e Claudinha quebraram barreiras, superaram dificuldades e conseguiram, cada uma na sua realidade, seguir na carreira no surf profissional, e agora, se encontraram novamente nesse momento histórico que foi ter o surf como modalidade Olímpica.
A estreia do surf nos jogos olímpicos foi a realização de um sonho para todos os surfistas, mas em especial para os seleção brasileira masculina, que vive a onda da Brazilian Storm, entra como favoritos nos Jogos e finaliza levando a primeira medalha de ouro de surf da história, com Ítalo Ferreira.
No surf feminino, enxergamos uma luz no fim do túnel, ainda que distante e cheia de dificuldades, a nova geração teve o gostinho de ver sonhos impossíveis se tornando realidade.
Mesmo com a enorme desigualdade de gênero no surf brasileiro, Silvana Lima conseguiu chegar até as quartas de finais, trazendo esperança para atletas que têm grandes chances de serem as próximas representantes do Brasil, como as surfistas Yanca Costa e Julia Santos, campeãs brasileiras que lutam por um patrocínio de bico.
“Trouxe também uma possibilidade de sonhar para as próximas gerações. Depois de tantas rupturas, principalmente no surf feminino, ter a Silvana representando a gente é a continuação desse sonho para as próximas gerações, de que a gente pode sim ter essa chance.” – diz Claudinha Gonçalves.
Silvana Lima é representante do surf feminino brasileiro em Tokyo 2020
O LEGADO: O QUE VEM DEPOIS DAS OLÍMPIADAS?
Apesar de ter um pouco mais de mídia voltada para mulheres do surf, e mais meninas no mar, Claudinha e Silvana concordam e afirmam que precisamos de mais trabalho de base para desenvolver uma Brazilian Storm feminina.
É importante destacar as vitórias de Silvana, pois ela representa a realidade do surf feminino no Brasil: oportunidades escassas, luta por respeito, igualdade, superações físicas, mentais e financeiras. Ainda assim, ela conseguiu abrir espaço para a nova geração, sendo fonte de inspiração e, aos 36 anos, continua dando trabalho e puxando o nível das meninas mais novas.
“Tem muito mais meninas no mar, mas se tiver campeonatos (100%) femininos, aí sim é que a gente vai ver o quanto de talento a gente tem no Brasil”, diz Silvana Lima
A nova geração terá mais possibilidades, pois a geração anterior batalhou muito por esse espaço. Além disso, estão construindo carreira em um espaço mais consciente, onde suas vozes ganharam mais peso. A própria Yanca Costa, atual campeã brasileira, levantou a pauta #bikinitabméuniforme, em seu projeto de surf feminino Shaka Girls, que incentiva o surf profissional para mulheres. Cansada da mídia sexista e dos comentários machista, com apenas 20 anos ela já criticava a objetificação da mulher no esporte e pedia mais respeito pela sua profissão.
Esses tabus começaram a ser discutidos pela geração de Silvana e Claudinha, para que o maior legado no surf feminino brasileiro fosse justamente a coragem de se posicionar, de sonhar e de exigir melhorias para a categoria de base.
“A nova geração não precisa desse peso. A nova geração precisa, de fato, enxergar que elas precisam ser boas atletas. E para isso, precisa ter condição” – diz Claudinha
Claudinha Gonçalves representando e dando voz ao surf feminino nas Olimpíadas de Tokyo 2020
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