Por Tico Cavalcanti
Não foi à toa que esse cara pintou… o surfshort – caracterizado pela cintura fixa em cós, ao invés do elástico tradicional da maioria dos shorts esportivos anteriores – apareceu por pura necessidade dos surfistas, que precisavam de alguns detalhes no design que favorecesse a prática do surf e o “beach lifestyle”. Assim como na evolução das espécies, no vestuário esportivo é normal o design evoluir de acordo com a necessidade.
Lá pelos anos 50, a rapaziada do surf, no Hawaii e na Califórnia, passou a preferir shorts com a cintura fixa em cordão ou botão de pressão, pois a cintura de elástico irritava a pele em contato com o sal e o sol, aos quais os
surfistas ficam expostos por longo tempo. Notou-se, ainda, que a cintura fixa era mais estável dentro d’água na hora de furar as ondas e nas “vacas”, evitando que o short caísse perna abaixo. Percebeu-se também, que o modelo, ligeiramente mais comprido e moldado ao corpo, evitava que a parafina da prancha enrolasse nos cabelos das pernas, o que efetivamente é uma chateação ao surfar.
Estas “necessidades” é que realmente contribuíram para o design diferenciado deste tipo de short, que hoje em dia é usado por milhões de surfistas mundo afora, migrando para outras tribos que adaptaram a mesma base de cintura fixa no cós às suas realidades comportamentais. Com a crescente demanda, os surfshorts foram evoluindo durante a década de 50 e 60, passando da produção artesanal, para a industrial, atendendo ao life style da juventude dourada da Califórnia e do Hawaii, formadoras de opinião de muitos jovens nos Estados Unidos e Austrália. Foram surgindo as marcas de surfwear, e se deram bem as que conseguiram produzir e distribuir com eficiência, para aproveitar o mercado em expansão, que contava com a revista Surfer e com filmes épicos como “Mar Raivoso” e “Endless Summer” como veículos de divulgação.
Por serem feitos para agüentar o rip de surf, sol e água salgada, os surfshorts desde o início precisaram agregar ao seu conceito o fator “durabilidade”, e as marcas conhecidas por produzir bons surfshorts eram, naturalmente, consideradas as mais “hardcore” e, conseqüentemente, ganhavam a preferência dos consumidores.
Em 1970, a marca Hang Ten, cujo logotipo eram dois pezinhos representando a manobra clímax do surfista em um pranchão usado na época, incorporou enorme reputação pelos seus surfshorts, com materiais diferenciados, costuras e detalhes reforçados para o surf e até um bolso traseiro para a parafina, que os surfistas passaram a usar ao avesso, e que virou tendência na época. No Arpoador, quando alguém pintava com um short novo importado da Hang Ten na praia, com os dois pezinhos bordados na perna, a rapaziada ia ao delírio, e se o cara quisesse, vendia na hora a preço de ouro. Vale lembrar que também as t-shirts da Hang Ten, feitas em malha especial encorpada (tipo suedine), lisas, estampadas ou em listras, faziam também tremendo sucesso. No Rio, no começo dos nos 70, o Maurício Galinha produzia e vendia em sua casa em Copacabana, os seus “Hanglinha” – versão tupiniquim imitação dos Hang Ten. Nosso lendário Pepê era cliente assíduo do Galinha, e pagava em prestações…
Em meados da década de 70, a Quiksilver, na época uma nova, criativa e original marca de surfwear australiana, lançou modelos de surfshorts com o cós “anatômico”, que a destacou como produtora de surfshorts hardcore e modernos. Esse tipo de cós anatômico tem enorme receptividade até hoje. A Lightning Bolt, marca do legendário Gerry Lopez, com o logotipo de raio, também lançou vários modelos com o cós.
Atualmente, as bermudas arrebentam na tecnologia. Tecidos que secam em minutos e estampas que até Picasso e Salvador Dali usariam.
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