Hoje o surf mundial exalta a chamada Geração Brazilian Storm, que virou Geração Medina com domínio brasileiro sobre o esporte nos últimos anos. Mas na história, o que levou a popularização do surf foi a cultura polinésia, que une hoje as origens do estilo de vida surf à profissionalização da modalidade, criando uma linha do tempo que vai ”De Duke a Medina”.
O esporte praticado sobre prancha em água salgada, foi às piscinas de ondas mecânicas – com todas as etapas vencidas por brasileiros. E essa comunhão da sólida entrada do surf no mainstream com as conquistas dos mundiais pelos surfistas brasileiros, colocou foco sobre a Medalha de Ouro nas Olimpíadas Tóquio.
Muitos tubos foram surfados até o esporte chegar nas Olimpíadas. A história tem origem na cultura dos povos polinésios praticado pelos Reis Havaianos, desembarca nas ilhas Oahu, passa pelo surfista e medalhista olímpico de natação Duke Kahanamoku (1912), vive os anos dourados na Califórnia nos anos 60, contamina a Austrália e o mundo, passa pelo Pier de Ipanema até chegar em Maresias.
“EXÓTICO PASSATEMPO” TRANSCRITO PELO LENDÁRIO CAPITÃO COOK
Na história do surf, existem diversas versões sobre como surgiu o esporte. Grande parte atribui aos polinésios, povos guiados pela Lua e as estrelas que migraram das ilhas do Sul do Pacífico em direção do arquipélago havaiano.
Outra versão menos conhecida, aponta aos antigos povos peruanos, que deslizavam sobre as ondas com seus Cabalitos de Totora, uma embarcação feita em amarrações de palha usada para pesca artesanal – há 4.000 mil anos.
Contudo, os registros indicam que o mundo ocidental conheceu o surfe em 1779, em relatos feitos nos diários do Tenente James King, que navegava a bordo de um navio britânico, liderada pelo famoso Capitão Kook. Segundo os relatos, James fez uma referência ao que apelidava de “exótico passatempo” dos locais no Havaí.
Rapidamente os europeus começaram a usar a ilha como ponto de parada durante as travessias do Oceano Pacífico. Segundo o portal Surftotal, “em 1821, missionários ingleses foram até o arquipélago para impor religião e oprimir ideologias das populações nativas”. A prática do surf era vista pelos missionários como imprópria e foi banida, o que quase levou à extinção da tradição havaiana.
Assista Duke Kahanamoku surfando em 1939, na remada com pranchão. – Vídeo – SurfSyley4
HULA HAVAIANA LEVA O SURFE PARA O MUNDO
O surfe ganhou o mundo nas Olimpíadas da Antuérpia, Suécia 1912, graças a Duke Paoa Kahanamoku – a maior referência do esporte.
Esportista nato, Duke bateu o recorde dos 100 metros livres e ganhou a sua primeira medalha de ouro em Olimpíadas. E com os holofotes da conquista aproveitou todas as oportunidades para evidenciar o surfe como esporte e estilo de vida.
A partir daí, o surfe começou a tomar contornos de reconhecimento mundial. Nos anos 30 aconteceram as primeiras revoluções no esporte com a inserção da tecnologia, com o primeiro registro aquático (dentro d’água) feito em Wakiki pelo fotógrafo e surfista Tom Blake, que surfava em prancha ocas, com estruturas navais, diferente das tábuas maciças de Duke.
Um inovador, Tom Blake, inovou ao criar a primeira caixa estanque do mundo para expandir a fotografia do surfe.
ESTREIA NAS ONDAS DE SANTOS E A CONSOLIDAÇÃO DO SURFE COMO ESPORTE
O surfe apareceu no Brasil na década de 30, com o norte-americano Thomas Rittscher e sua irmã Margo surfando nas ondas de Santos. É dele a façanha de ser o primeiro surfista a pegar ondas no Brasil, em experiência trazida de sua terra natal.
Nos anos 50 começaram a surgir os primeiros festivais da modalidade, principalmente na Califórnia, nos EUA. Em 1964 foi criada a primeira entidade mundial do surf, a International Surfing Federation (ISF), com o primeiro evento aconteceu em Sydney, na Austrália, também no ano de 1964.
Em 1976 a entidade foi renomeada como International Surfing Association (ISA), que segue assim até hoje. E em paralelo foi criada a IPS (International Profissional Surfers).
Em 1982, o australiano Ian Cairns criou a Association of Surfing Professional (ASP), que substituiu a IPS. E uma década a frente a ASP mudou o formato de competição, apresentando o World Championship Tour (WCT) e o World Qualifying Series (WQS), dividindo rankings em primeira e segunda divisão.
Em 2014 a ASP foi adquirida pela ZoSea Media Holdings e, no início de 2015, virou a atual entidade do surf mundial: World Surf League (WSL).
DAS ORIGENS HAVAIANAS AO PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL DO BRASIL
Das primeiras ondas surfadas em Santos, o surfe se estabeleceu no Rio de Janeiro. Com a Segunda Guerra Mundial, o Rio tornou-se base naval para os Estados Unidos, quando na década de 40, os soldados americanos trouxeram as suas pranchas para explorar novas ondas.
Essa cena moldou os primeiros surfistas cariocas nos anos 50, com pranchas de Madeirit deslizando sobre as ondas de Copacabana. Mas foi precisamente nas areias de Ipanema, precisamente no Píer de Ipanema, que o surf tomou proporção nacional.
Pepê Lopes, Ricardo Bocão, Rico de Souza, Daniel Friedmann, entre outros, levaram o surfe como comportamento muito além das fronteiras fluminense. O surfe como competição se deu com os grandes festivais nas décadas de 70 e 80. E no Brasil a indústria explodiu nos anos 90.
De lá cá muita coisa aconteceu, Fabinho Gouveia ganhou nosso primeiro título mundial amador em 1988 em Porto Rico. O pernambucano Carlos Burle se tornou o nosso primeiro campeão mundial de ondas grandes, e puxou uma geração inteira com ele para quebrar recordes.
E em 2014, finalmente, Gabriel Medina quebrou o jejum e ganhou o primeiro título mundial profissional do Brasil no esporte. E depois dele vieram os títulos de Adriano de Souza de 2015, o repeteco de Medina com o bicampeonato em 2018 e o caneco de Ítalo Ferreira de 2019 – cravando domínio absoluto do Brasil no esporte.
Colaborou / Texto Lucas D’Assumpção
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