Color The Water é um movimento de surf criado enquanto os protestos do Black Lives Matter varriam o mundo. O coletivo de Los Angeles está empenhado em recuperar a cultura do surf no sul da Califórnia, trazendo os negros para dentro do mar provocando a iniciação esportiva por meio do surf.
Fundando por David Malana, um descendente de filipinos de 38 anos de idade, “As Cores D’água” (em tradução livre) é formado inteiramente por negros e latinos, e conta com a participação de artistas, atores, dançarinos, designers, rappers, escritores, programadores, personal trainers, enfermeiras, donos de restaurantes, estudantes de doutorado, e de qualquer outra pessoa interessada em se divertir no mar.
David Malana relata que a ideia para o projeto surgiu em uma sessão de surf. Ele estava na água, e um surfista negro se aproximou e perguntou se ele poderia lhe dar algumas dicas. As dicas se transformaram em uma aula. Um grupo que viu a cena perguntou se eles poderiam participar. E atualmente o Color The Water já conta com mais de 100 alunos, com monitoria nas praias de Santa Mônica.
“O surfe me levou por todo o mundo. E estou aqui de volta, no lugar onde antes evitei a identidade que agora abraço. Se eu puder retribuir alguma coisa, espero oferecer o direito, o conforto e a confiança para que todos adotem as suas culturas.”, diz David.
“O oceano é… Eu sinto … algo que as pessoas tradicionalmente pensam que é para todos. Mas se você não consegue nem chegar lá, e se seu povo foi empurrado para longe do oceano por séculos?”, indaga David Malana, em conversa com a co-fundadora do Color The Water, Lizelle Jackson.
“E então, quando você finalmente chega lá, você se sente deslocado, porque ninguém se parece com você, e todo mundo está olhando para você e te julgando pela cor da sua pele”.
A SEGREGAÇÃO NAS PRAIAS AMERICANAS
Segundo marcos da história norte-americana, os surfistas negros sempre lutaram para entrar no surf, considerado na século passado como um esporte homogêneo.
O havaiano Duke Kahanamoku, legend medalhista olímpico nos anos de 1920 e expoente do surf para o mundo, foi um dos pioneiros a apresentar para além das ilhas havaianas e a encantar multidões de origens europeias em praias segregadas.
Nos anos 50, no grande crescimento do esporte nos Estados Unidos, enquanto os americanos brancos surfavam livremente, a comunidade negra na Califórnia estava restrita a uma pequena faixa da praia chamada Inkwell – menos de um quilômetro ao sul de onde a equipe do Color The Water atua com o surf.
E mesmo com o fim da segregação, a Ku Klux Klan, que tinha forte presença na região, inflamada por movimentos separatistas da Califórnia, continuou restringindo o acesso à praia para os negros.
Esses e outros fatos históricos, cicatrizes profundas na sociedade, fazem parte da introdução das aulas em Santa Mônica. A valorização da cultura afro nos Estados Unidos ganha força no projeto, que leva os alunos pra dentro d’água para iniciar no surf.
“Acho, especialmente como pessoa negra, entrando neste espaço predominantemente branco, você sente que precisa ser melhor . Precisamos trabalhar duas vezes mais para conseguir um espaço e respeito.”
As aulas de graça são um sólido agente sociocultural para introduzir pessoas na sociedade, com respeito e união de todas as pessoas, em busca de um sonho, como diz o próprio David Malana.
“Nosso sonho é poder ter nossa própria sede e ser realmente uma Surf House. Um lugar onde podemos comungar, analisar mídia e sermos criativos para ajudar cada pessoa desse grupo interseccional. Falar verdades, enquanto mostramos sua jornada de surf; legitimar e solidificar o espaço para que seja verdadeiramente sustentável.”
Para conhecer mais sobre o projeto: @color_the_water
Assista abaixo o vídeo Make it Home | Color the Water, no canal de David Malana, sobre o projeto #colorthewater:
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