No surf Localismo é Racismo?

No surf Localismo é Racismo?

O analista esportivo e hoje militante do movimento negro Selema Masekela, deu uma importante entrevista ao portal The Inertia, em que fala sobre inclusão racial no esporte radical e o longo caminho que ainda precisa ser percorrido.

Selema Masekela sempre foi uma voz ativa no esporte. Ainda jovem começou estagiar em uma revista de skateboard nos anos 90, se tornou apresentador do X Games, cobriu a Copa do Mundo, a liga de basquete NBA e não demorou muito para se tornar uma das vozes mais respeitadas do esporte.

Além da longa trajetória lutando pela inclusão racial em frente às câmeras, Selema também fazia o dever de casa na prática. Surfista, skatista e snowboarder, Selema representa toda uma nação de surfistas negros e os incentiva a fazer o mesmo: ocupar seu espaço por direito.

Quando questionado sobre em que pé estamos nessa longa estrada da inclusão racial, Selema aponta duas coisas que precisam mudar: mais receptividade vindo da comunidade que já nasceu nessa cultura dos esportes radicais e a necessidade de pessoas negras continuarem compartilhando suas vivências, ocupando os espaços e levantando pautas sobre racismo.

“Muita gente dentro do espaço dos esportes de ação, porque tem determinado status, pensa que porque essas coisas não são visíveis, não acontecem. (…) Eu experimentei todos os tipos de racismo desde, “Ei, você é legal, um tipo diferente de cara negro. Você faz o que nós fazemos”. E até coisas mais agressivas e preconceituosas. Minha experiência não é exclusiva a de crianças negras que cresceram em espaços frequentados por quase todos brancos.”

Selema é um dos mais influentes jornalistas especializados dos Estados Unidos e no mundo do surf.

SURF: LOCALISMO x RACISMO

Alguns esportes radicais como Surf e Snowboarding já são intimidantes por si só, pois desafiam os limites da natureza, sem falar no alto investimento em equipamentos. O cenário fechado e seletivo também não ajuda, o próprio Localismo tende a afastar novos praticantes.

Porém, para Selema Masekela, há uma enorme diferença entre alertar sobre as regras de segurança e impedir alguém de surfar. Em alguns lugares como no Havaí, entende-se o localismo como uma resistência ao colonialismo, em que os locais protegem o pouco que resta da cultura havaiana, diferente do localismo sem motivo.

“A ideia de que, se você não pode morar aqui, não pode surfar aqui, ou eu não te conheço, posso mandar você sair, é ridícula. (…) Porque eu moro em uma rua que não fica longe daqui – isso saiu direto do manual de racismo.”

Assim como essa cultura do racismo disfarçado, Selema aponta a falta de iniciativa da indústria do surf, que prefere deixar as pautas raciais bem longe do esporte, em vez de buscar expandir o cenário, com melhores políticas de contratação e descobrindo maneiras de usar as ferramentas que as marcas já possuem para incluir mais pessoas negras.

“As pessoas continuam querendo dizer aos outros para calarem a boca sobre isso. Isso não ajuda. Deveria ser mais como, ‘Ei, o que posso fazer para fazer a diferença dentro do meu círculo?’”

Selema cobrindo evento de skateboard da Red Bull (CRÉDITO: Jeremy Deputat / Red Bull Content Pool)

VEJA NA ÍNTEGRA A REPORTAGEM – Selema Masekela Is Right: Action Sports Still Have a Long Way to Go –, ENTREVISTA ASSINADA POR JOE CARBERRY NO PORTAL THE INERTIA.

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*Livro AFROSURF documenta a história do surf na África, com relatos da influência urbana sobre o universo praiano de mais de 20 países.

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