O Inverno da Covid

O Inverno da Covid

No último dia 16 de janeiro de 2020, o arquipélago havaiano foi bombardeado por um dos maiores swells das últimas décadas, quiçá um dos maiores de todos os tempos, marcado como “O inverno da Covid”.

Eram por volta das 3 horas da madrugada de sábado e a boia 51101, que fica localizada a 186 milhas náuticas ao noroeste da ilha de Kauai, marcava 17 pés e 22 segundos.

Quando a boia 01 está oscilando assim, é apenas uma questão de tempo até que uma ondulação gigante atinja as ilhas havaianas. Em cerca de 4 horas – dependendo da velocidade do swell – as primeiras ondas chegam à costa Norte/Oeste do Kauai. E mais 5 horas depois ao “North shore” de Oahu. E 6 horas depois na ilha de Maui.

Com ventos fracos – majoritariamente do quadrante sudeste – soprando nas costas norte do arquipélago, em séries de 25 pés para mais, as condições estavam literalmente épicas! E se a janela do “Eddie Aikau” estivesse aberta, certamente o campeonato teria sido realizado na baía de Waimea.

DRAMA EM JAWS!

Enquanto em Oahu o vento estava mais fraco – com rajadas de no máximo 10 knots – na ilha de Maui, mais precisamente em Jaws, ele soprava com mais de 25 knots.

Dentro d’água alguns dos melhores windsurfistas do mundo, entre eles o brasileiro Marcílio Browne, o australiano Jason Polakow e o americano Robbie Nash, todos ex-campeões mundiais, velejavam para dentro de ondas imensas.

Num dos momentos mais dramáticos do dia, o jovem windsurfista Adam Warchol pegou uma das maiores ondas já surfadas com uma prancha de windsurf. Mas depois de chegar na base da onda – que parecia ter mais de 60 pés de face – e se posicionar para o tubo, Adam acabou tomando uma vaca assustadora. O mastro do windsufista foi atingido pelo lipe da onda e Adam foi arremessado em direção ao fundo de Jaws.

Depois de tomar duas bombas na cabeça, Adam conseguiu voltar à superfície para respirar. Em um dos vídeos que postou no Instagram, ele aparece falando:

“Eu inflei meu colete duas vezes antes de conseguir dar uma respirada. E procurei ficar o mais calmo possível”.

Quando finalmente conseguiu colocar seu nariz para fora d’água, Adam tomou mais 3 ondas na cabeça.

“A terceira onda de série me levou para o fundo e eu pensei que minha cabeça fosse explodir com tanta pressão”.

Em um dos inúmeros vídeos que mostram a onda (vaca) de Adam Watchol é possível ver o brasileiro Rafael Kroeff, que estava tentando passar a onda, voltando junto com o lipe. A imagem é assustadora. E com certeza, Rafael foi outro que deu sorte de sair vivo d’água naquele dia.

VEJA ABAIXO POR OUTRO ÂNGULO A “VACA” DE ADAM WATCHOL, COM O BRASILEIRO RAFAEL KROEFF DESPENCANDO COM O LIPE DA ONDA: 

JUSTINE DUPONT CHOCA O MUNDO EM JAWS!

Ainda em Jaws, a francesa Justine Dupont foi uma das estrelas do dia. Depois de ser rebocada para uma onda que tinha no mínimo 50 pés de face, ela entrou e saiu de um tubo incrível! Com certeza o maior já surfado por uma mulher.

Mas se isso tudo não bastasse, Kai Lenny, local de Maui, também estava na água. E foi rebocado pra dentro de algumas ondas absurdas.

“Kai Lenny mostrou porque hoje é considerado o melhor “waterman” do planeta.”

Já o italiano Francisco Porcella pegou uma morra pra esquerda – sim para a esquerda em Jaws – que com certeza estará concorrendo ao prêmio de maior onda do ano. No final daquele dia mais de um jet ski havia sido jogado nas pedras. O bicho pegou geral !

OUTERS REEFS DO NORTH SHORE DE OAHU

Enquanto em Maui os windsurfistas dividiam o pico com os “tow surfers”, na costa norte de Oahu, Koa Rothman, John Florence, Mike Wright e Kelly Slater, entre outros, surfavam esquerdas gigantes – na remada – em um dos melhores “outer reefs” do “North Shore”.

Era por volta das 11 horas da manhã de sábado quando a maré atingiu o nível mais baixo do dia na costa norte de Oahu. Um pouco depois da virada da maré, quando ela começava a subir, a maior série do dia varreu o “North Shore”.

No “outer reef” onde John John e seus amigos estavam surfando foi terror e pânico!

No canal estavam circulando mais de uma dezena de jet skis, com vários fotógrafos e cinegrafistas de olho nos melhores ângulos. Afinal aquela era uma oportunidade única. Com um período de mais de 20 segundos os intervalos entre as séries eram longos.

Quando elas entravam… Eram grandes e tubulares. Assustadoramente tubulares. Lembrando a onda de Cloudbreak, em Fiji.

E quando a série do dia apontou no horizonte… já era tarde demais! A maior delas quebrou bem mais lá fora, o canal fechou e todos os jet skis foram pegos de surpresa no lugar errado.

As imagens são incríveis! Elas mostram uma tentativa de fuga desastrada. Onde a maioria dos jets consegue evitar o pior. Mas pelo menos 2 deles – um preto e o outro branco – acabam roubando a cena.

Ambos jets aparecem tentando passar a onda… No jet preto estava o piloto americano – da Carolina do Sul – Cam Richards e o fotógrafo local Ryan Moss. Olhando as imagens da pra ver que os dois jets voaram muito alto usando a onda como se ela fosse uma plataforma de lançamento.

Na aterrissagem, Ryan fraturou sua coluna e foi parar no hospital. Cam aparentemente escapou ileso. Apesar de perder seu equipamento, e agora ter uma conta alta pra pagar no hospital, Ryan deu sorte de não ter ficado paralítico. Até hoje ninguém sabe quem estava no outro jet ski. Nem muito menos o que aconteceu com ele.

O cinegrafista Mike Latronic também estava na água, a bordo de um outro jet ski, que também acabou voando sobre a onda. Mais tarde, quando já estava em terra, são e salvo, Mike relatou os momentos de adrenalina que passou. Latronic deu sorte. Saiu ileso e ainda conseguiu recuperar sua câmera.

Abaixo, Laniekea vista da estrada que corta o North Shore, com os jet-skis voando sem controle:

WAIMEA FECHANDO TUDO!

Enquanto isso, em Waimea, as condições estavam épicas! Com séries de 20 – 25 pés havaianos (40 – 50 pés de face) fechando a baía. O fotógrafo Clark Little estava na areia quando uma das maiores séries do dia entraram…

Foram mais de 8 ondas. Uma atrás da outra. E pelo menos duas delas fecharam a baía. O vídeo postado por Clark (abaixo) mostra uma série de ondas quebrando e fechando a baía de Waimea.

 

Em um certo momento é possível ver um jet ski, pilotado por um piloto extremamente experiente, em alta velocidade em direção à praia. Sem outra opção, o piloto acelerou com tudo para não ser atingido pela espuma da onda.

Os dois, onda e jet ski, travaram uma corrida insana. O jet na frente e a onda atrás. Quando faltava menos de 200 metros para chegar à praia, o piloto fez uma manobra radical: Uma curva de 180 graus que posicionou a proa do seu jet de frente para a onda. Não lhe faltou coragem nem técnica para encarar uma espuma com mais de 2 metros de altura.

Que piloto era aquele? Eu ainda não sei. Mas aposto que deve ser um salva vidas havaiano.

O cara estava numa missão. E, na sequência, ainda resgatou um surfista que tinha perdido a sua prancha e estava passando o “sufoco da vida” em meio a uma correnteza animal, em plena baía de Waimea.

O inverno da Covid no hemisfério norte está bem consistente em termos de ondas. De ondas grandes. Bem grandes. Seja no Havaí ou mesmo na Califórnia, onde na semana passada quebrou um dos maiores Mavericks da história. E Peter Mel pegou – na remada – um dos melhores tubos de todos os tempo. E olha que a temporada ainda está apenas começando.

Peter Mel bota pra baixo em Mavericks!

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