História da Surf Music
Por Alberto Woodward
Outro dia, eu estava pensando nessa história quando o Romeu, nosso publisher aqui da Alma Surf, me perguntou: “Afinal, o que é surf music? Como se identifica esse som?” Depois de explicar-lhe algumas das características dessa música, me dei conta de que, como ele, há milhares de pessoas que conhecem surf music há muito tempo, só não sabem que tem esse rótulo. De fato, uma confusão natural. A surf music nasceu com o rock’n’roll e do rock’n’roll, sendo nada mais do que uma de suas ramificações. Uma onda que começou nos anos 50 e, até hoje, faz muita gente balançar. O que convencionamos chamar de surf music ficou assim conhecida justamente por ser um jeito de tocar rock inventado por surfistas, mais propriamente por Dick Dale, reconhecido mundialmente como um dos inventores, se não o inventor, da surf music. Sem dúvida, ele é o maior fenômeno do estilo, tanto que o próprio Jimi Hendrix fez uma música em sua homenagem “Third Stone From The Sun”, que está no álbum de estréia do maior guitarrista de todos os tempos, The Jimi Hendrix Experience, lançado em agosto de 1967.
A homenagem se justifica não pelo virtuosismo de Dale, mas pelo seu estilo único, que acabou por influenciar 90% (ou mais) dos guitarristas de surf music. Por volta do final dos anos 50, Dick recebeu o título de King of the Surf Guitar (Rei da Guitarra Surf), apelido que ganhou de uns surfistas com os quais costumava surfar das primeiras horas da manhã até o pôr-do-sol. À noite, ele fazia a galera balançar no Rendezvous Ballroom, em Balboa, na Califórnia. Naquela época, ele conheceu Leo Fender, o mago dos amplificadores e das guitarras. Leo pediu que ele experimentasse sua mais nova invenção: a Fender Stratocaster, hoje considerada a Excalibur das guitarras. Dale, que é canhoto, pegou a guitarra e começou a tocar, e Leo não acreditou no que viu, pois aquela era uma guitarra projetada para destros, tanto que tem até um formato anatômico, mas Dick a estava tocando com a mão esquerda (tal qual Hendrix) sem inverter as cordas, fazendo um som absolutamente particular, como ele nunca ouvira antes. Os dois se tornaram grandes amigos, e Leo acabou projetando amplificadores que combinassem com o estilo de Dale tocar. Foi assim que surgiram o Fender Dual-Showman e o Fender Reverb.
Dick inventou algumas frases e riffs de guitarra inspirados no barulho das ondas e nos movimentos do surf. Isso, somado ao seu jeito de tocar e ao timbre das guitarras e amplificadores Fender (carregados de reverb, um efeito parecido com um eco molhado), se tornou marca registrada da surf music em todo o mundo e é utilizado até hoje pelas bandas atuais. Ao contrário do que reza a lenda, nem todo pioneiro da surf music era surfista, mesmo porque esse label ainda não existia, tudo era simplesmente rock’n’roll. Também não é verdade que as principais bandas eram do litoral:The Ventures era de Seattle; The Trashmen, de Minneapolis; The Citations, de Milwaukee; The Astronauts, de Boulder; e por aí vai.
A partir do momento que se fixou um estilo próprio, definindo-se as características da surf music, ela tomou dois caminhos distintos: o instrumental e o cantado. Dick Dale começou com os dois estilos, mas acabou se firmando no instrumental. Na verdade, a surf music cantada eram uns roquinhos que falavam das coisas do surf, de garotas na praia, das trips de verão, etc. Muitas vezes com letras ingênuas, como a maioria dos rocks da época. Os maiores expoentes dessa onda foram os Beach Boys, grupo californiano formado, em 1961, pelos irmãos Wilson (Brian, Carl e Dennis), o primo Mike Love e Al Jardine. Gravaram o primeiro LP em 62, pela Capitol, e foram direto para o topo das paradas com a música “Surfin’ Safari”, que dava nome ao disco. Em 63 eles emplacaram no Reino Unido com o single Surfin’ U.S.A., e a partir daí passaram a dividir as paradas de sucessos com os Beatles e os Rolling Stones. A sonoridade dos Beach Boys foi algo surpreendente na época: eles misturavam um jeito de cantar doo woop (estilo musical dos anos 40) com um swing à la Chuck Berry. Ainda na estrada, a banda está com 40 anos de carreira e vários discos lançados. Porém, os primeiros são os melhores. A onda não rolava só no Pacífico. Do outro lado do continente, mais uma vocal surf band surgia no cenário: John Zambetti and The Malibooz, de Nova York. Ainda na ativa, essa banda surgiu em 1963 e tem o surf nas veias, pois se trata de um grupo de surfistas. Não fizeram tanto sucesso como os Beach Boys, mas emplacaram nas paradas de 65 com o single Goin’ to Malibu, e chegaram a dividir o palco com bandas do naipe de Jefferson Airplane, The Grateful Dead, The Allman Brothers e outras grandes estrelas da época.
A mistura eclética de ritmos e tendências que forma a surf music é extremamente rica, especialmente no campo instrumental. Durante os anos 50 e 60, grupos como Link Ray and The Raymen, Duane Eddy, The Ventures, The Fireballs, Johnny & the Hurricanes, The Shadows, The Champs, The Fendermen and The Wailers, incorporaram a esse rock’n’roll um amplo espectro de elementos adicionais, como rockabilly, R&B, country & western, jazz, flamenco e ritmos mexicanos e latinos de maneira geral. A surf music instrumental é um tanto diferente da vocal. As bandas vocais cantam sobre surfar, enquanto as bandas instrumentais procuram reproduzir a sensação de estar surfando. A surf music vocal lida principalmente com o estilo de vida associado com a cena surf, enquanto a surf music instrumental é sobre a própria experiência de confrontar os elementos. A explosão da surf music instrumental se deu no início dos anos 60. Começaram a aparecer com destaque, nas paradas, bandas como The Bel-Airs, com a música Mr. Moto, e Dick Dale and The Del Tones, com Let’s go tripping. Mas o grande nome americano da época foi The Ventures. O grupo nasceu em 1959, na cidade de Seattle, e em princípio se chamava The Versatones, mas um ano depois, quando gravou “Walk, Don’t Run”, já havia mudado de nome. Com essa primeira gravação, eles ganharam o mundo: a música ficou em segundo lugar nas paradas da Billboard, onde se manteve por 18 semanas. O primeiro LP veio em 62, colocando a música “Perfidia” nos primeiros postos das paradas britânicas. Depois disso, foi uma verdadeira avalanche de sucesso: “Ram-bunk Shush”, “Silver City”, “Blue Moon”, “Lolita Ya-Ya”, “Slaughter on Tenth Avenue”, “Diamond Head”, “Secret Agent Man”, “A Summer Place” e a famosa “Hawaii Five-O”, música que deu nome a um conhecido seriado de televisão, muito popular no Brasil na década de 70. The Ventures, ao lado de Dick Dale, é uma das mais importantes e influente banda da história da surf music, tendo vendido mais de 90 milhões de discos em todo o mundo, dos quais 40 milhões no Japão, onde existe uma verdadeira legião de fãs e bandas altamente influenciadas por eles. Na Inglaterra, praticamente ao mesmo tempo em que pipocavam bandas de surf music nos EUA, um grupo que acompanhava o cantor Cliff Richards vinha ganhando destaque: The Shadows. Essa banda foi a grande sensação britânica antes dos Beatles, tanto que, na contracapa do primeiro LP do quarteto de Liverpool, havia os seguintes dizeres: “O grupo mais excitante e competente a aparecer desde os Shadows”. Os próprios Beatles eram seus fãs, e chegaram a homenageá-los gravando o rock instrumental “Cry for a Shadow”.
The Shadows foi a banda que mais rivalizou com The Ventures, e coincidentemente também tiveram que mudar de nome. No princípio eram The Drifters, mas desde 1953 já existia uma banda americana de sucesso com esse nome, e eles foram obrigados a mudar para evitar um processo judicial. Foi quando eles se separaram de Cliff para iniciar uma carreira instrumental de sucesso, com músicas como: “F.B.I.”, “Wonderful Land”, “Apache”, “Blue Star” e muitas outras.
Nem tão popular como os Ventures e os Shadows, The Trashmen têm seu lugar de destaque na história da surf music. Sua música era tanto cantada como instrumental, e, mais pelo nome (Os Lixeiros) que pela atitude, provavelmente foi a primeira banda com um estilo punk na história do rock. Talvez por isso, os Ramones regravaram um antigo sucesso deles: “Surfin’ Bird”. Nessa música, Steve Wahrer, baterista e cantor, combinou duas canções dos Rivingtons (“The Bird’s the word” e “Pa Pa Ooh Mow Mow”), adicionando um efeito vocal totalmente freak e acrescentando um novo ritmo. E com ela, no início de 1964, o grupo foi top ten nacional. Um fato interessante sobre eles é que os Rolling Stones, durante sua primeira turnê americana, abriram um show para os Trashmen, em Minneapolis. Um privilégio que pouquíssimas bandas tiveram na vida, sé é que houve outra. O grupo deixou de existir no final dos anos 80, com a morte de Wahrer.
Em meados dos anos 60, a surf music já não era só uma onda, mas um enorme swell que rolava no mundo todo. No Brasil não foi diferente. Altamente influenciada por The Shadows, em São Paulo, havia uma banda chamada Jet Black’s cujo maior sucesso foi “Theme For Young Lovers”, música lado-B de um compacto dos Shadows. Havia ainda The Clevers, que mais tarde mudaria de nome e faria um enorme sucesso como Os Incríveis. Outra banda muito popular foi The Jordans, que, mesmo muito calcada em Ventures/Shadows (aliás, todo mundo era), possuía características únicas, na utilização de três guitarras e instrumentos pouco comuns, como bandolim, banjo e vibrafone. No Rio de Janeiro, tivemos The Angels (mais tarde The Youngsters), banda que acompanhou Roberto Carlos na gravação do seu segundo LP. E até no Rio Grande do Sul a onda da surf music era dropada pelos Brasas, que contagiavam os salões de baile gaúchos com suas guitarras reverberadas.
Durante toda a década de 60, a surf music rolava direto nas rádios. A partir de 66, com a explosão da beatlemania e, posteiormente, com a geração woodstock, ela perdeu um pouco a força, mas ainda gozava de um certo destaque. No final dos anos 70 e meados dos anos 80, foi sumindo da mídia, sendo prestigiada apenas por uma pequena legião de fãs, fiéis ao velho estilo. Mas durante os seus anos de glória foram muitas as boas bandas que deixaram seu nome na história do rock’n’roll. Como não dá para falar de todas, deixamos aqui registrados alguns nomes: Atlantics, The Avantis, Al Casey, The Blue Boys, The Centurians, The Challengers, The Chantays (autores da clássica Pipeline), The Clashmen, The Cornells, The Crossfires (posteriormente The Turtles), Dave & The Customs, Dave Myers & The Surftones, Eddie & The Showmen, The Fender Four, Johnny Fortune, Bobby Fuller and The Fanatics(posteriormente The Bobby Fuller Four), Gary Usher, The Goldtones, The Impacts, Jim Messina & His Jesters, Jim Waller and The Deltas, Johnny Barakat and The Vestells, The Journeymen, Jan Berry and Dean Torrence, The Lively Ones, The Marketts, The New Dimensions, The Pyramids, PJ and The Galaxies, The Revels, The Rhythm Rockers, The Royal Flairs, The Sentinals, The Superstocks, The Surfaris (autores de Wipe Out), The Titans, The Tornadoes e The Treasures. Provavelmente estão faltando alguns nomes, mas, como eu disse, não é possível lembrar de todos. Isso só vem provar o quanto era rica e prestigiada a surf music na década de 60.
O Renascimento
A surf music andava em baixa, mas no final dos anos 80 e começo dos 90, teve um pequeno revival. Foi quando surgiram alguns bons grupos, como Insect Surfers, banda de excelente qualidade que iniciou em Washington, D.C., em 1979, e posteriormente se transferiu para o sul da Califórnia. Desse mesmo período podemos citar, também, The Aqua Velvets, uma boa banda de San Francisco, que desenvolveu um estilo bem interessante, incorporando em seu surf-rock elementos da música latina, mediterrânea, psicodélica, rockabilly e até alguma coisa de música ambiente. Há ainda o trio californiano Agent Orange, que lançou seu primeiro disco em 81. Este, embora não chegue a ser exatamente uma banda de surf music, mas, como eles mesmo se auto rotulam, um punk-surf power trio, faz bastante sucesso até hoje, tendo visitado o Brasil há alguns anos atrás.
No entanto, a velha guitarra reverberada voltaria à cena com grande força em 1993, devido ao lançamento do filme Pulp fiction, de Quentin Tarantino. Essa película foi sucesso internacional em todo o planeta, e, graças a isso, seu tema de abertura provocou uma nova onda de surf music no mundo todo. A música em questão foi Misirlou, de ninguém menos que o Rei da Surf Guitar, Mr. Dick Dale. Ela foi gravada pela primeira vez em 1963, nos estúdios da KFWB de Los Angeles, e 30 anos depois acabou fazendo mais sucesso que na época. “A primeira vez em que eu ouvi Misirlou, era criança. Trata-se de uma antiga canção árabe que meu tio cantava enquanto tocava alaúde. Lembro- me da primeira noite em que a toquei. Mudei o tempo e comecei dando mais força a ela. Então percebi que tinha batido em algum tipo de poder, aquele poder que caracteriza a surf music”, conta-nos Dale. De fato, Misirlou é um som forte e pulsante, tocado com tamanha vitalidade que não passou despercebido em nenhum lugar onde o filme foi exibido. A história se repetiu: a partir da música de Dale, novos adeptos da surf music surgem em todos os cantos do planeta. Porém, dessa vez a coisa não se dá na grande mídia, mas na mídia alternativa, como um movimento underground que inclui pessoas de todas as idades e tem na internet seu grande veículo. A nova onda também serviu para reviver antigos sucesso. Os discos de Dale, Trashmen e Shadows foram relançados, e as antigas bolachas passaram a ser disputadas a peso de ouro nos sebos do mundo. Ainda que não tenha a mesma força comercial dos anos 60, hoje ela é ouvida em lugares em que antes nunca se imagina-ria. Rússia, Croácia, Holanda, Finlândia, Israel, Uruguai, China e, se va-cilar, até na Índia. Uma característica curiosa dessas novas bandas, especialmente aquelas formadas por adolescentes, é a presença feminina, geralmente no baixo ou nos teclados. Os estilos variam entre o clássico, o psicodélico, o hardcore, etc.
Na Europa, uma banda que vem chamando a atenção é The Bambi Molesters. O grupo, natural da Croácia, foi formado em 1995 e lançou seu primeiro CD, Dum Lound Hollow Twang, em 97. Desde então vem se apresentando regularmente em seu país e em todo o continente europeu. Adepta do estilo clássico, faz um som limpo e agradável, e suas ardentes e energéticas apresentações a levaram a ser considerada uma das me-lhores e mais originais surf bands contemporâneas, recebendo o apoio de grupos consagrados como R.E.M. e The Cramps. A partir deste ano, ela será lançada nos EUA e Canadá, mas por aqui… nada consta. Quem pensa que Portugal vive só de fado e música romântica está redondamente enganado. Lá rola de tudo, até surf music. Entre seus expoentes, destacamos o Dr. Frankenstein, que surgiu em 1994, como representante da facção surf lounge-garage, segundo eles mesmos. Participaram entre 95 e 96 das coletâneas Portugal Rockers e Supermarket Music, e lançaram o seu primeiro CD, The Lost Tapes From Dr. Frankenstein’s Lab., em outubro de 2000, cuja capa é de uma grafia primorosa. O próxi-mo já está no forno… Ainda na Europa, encontraremos o grupo Laika & The Cosmonauts, da Finlândia. Eles não são novos no pedaço, pois estão na área desde 1988, quando lançaram o álbum C´mon Do The Laika! Acabam de lançar o CD Laika Sex Machine.
Lá no distante Israel, um grupo de fãs da surf music, cansados de procurar bandas que fossem bastante agressivas, resolveram fazer eles mesmos. Assim, no início de 1997, nasceu The Astroglides. Acabaram por desenvolver um estilo próprio, o surf core, que consistiu em fazer músicas instrumentais curtas (por volta de 2 minutos), pesadas e agressivas. Um detalhe: eles também cantam, só que em hebraico. Meu irmão, esses caras são da pesada!
No Japão, onde a surf music sempre gozou de um certo prestígio, The Royal Fingers revive velhos clássicos, executando com fidelidade a musica das surf bands dos anos 60, utilizando os mesmos instrumentos e amplificadores da época. Mas quem anda arrebentando mesmo são The Surf Coasters, que acabam de lançar um novo CD. A banda é liderada pelo guitarrista Shigeo Naka, considerado no Japão o Príncipe da Surf Guitar. A bem da verdade, se o cara chega a tanto eu já não posso dizer, mas a banda faz um som bem interessante, que eles mesmos rotulam de surfde-lic. Seria mais ou menos um som de surf music misturado com um tema de seriado de aventura infanto-juvenil japonês, tocado num estilo psycho-groovie. Deu para sacar?
Nos Estados Unidos, berço da surf music, além dos veteranos em atividades, todo dia surge um novo grupo, com novas propostas e fazendo um som de qualidade. Cara, tem muita coisa boa! É claro que tem banda ruim também, mas dessas não precisamos falar. Um grupo muito curioso é Los Straitjackets (Camisas-de-Força), que tocam no estilo tradicional, mas se apresentam usando aquelas máscaras típicas dos adeptos da luta livre. Apareceram em 1988, quando fizeram várias apresentações durante o verão, em Nashville, e se separaram. Mas voltaram à ativa em 1994, na Califórnia, aproveitando o boom da surf music para gravar o primeiro CD. Em Chicago, encontramos outra banda interessante, The Balboas. No estilo da cidade, eles tocam com ternos pretos, óculos escuros, cabeça raspada, e fazem um som muito legal, que lembra um pouco o psychobilly. Rick Frei, o baixista, afirma vir de uma “fina” linhagem de surfistas através de seu tio Tom Blake, que (segundo ele) é um pioneiro do surf americano e também um cara influente da filosofia surf. Recentemente, estiveram em turnê pela Europa e participaram da trilha sonora do filme Longboardin’ 2, ao lado de The Malibooz. Dizem que o filme é maneiro, e deve ser mesmo, pois conta com a atuação de feras como Jimmy Hogan e Joel Tudor.
The Manatees vêm preservando e expandindo a tradição de Seattle na surf music, o que não é tarefa das mais fáceis, afinal foi nessa cidade que surgiram os Ventures. O som dos Manatees muitas vezes soa mais como rítmico do que solado, pois eles não abusam tanto do solo de guitarra como a maioria das bandas. Isso lhes dá uma característica própria. Apesar de Phil e Ed (guitarrista e baterista) virem de uma banda punk, The Dehumanizers, o estilo deles está muito mais para a surf music tradicional. Como eles mesmos dizem: “Nosso som vem de influências latina, africana, árabe, do punk, do raggea, misturadas com a surf music. O resultado é tão natural quanto um camelo na praia bebendo um Mai-Tai”.
A grande sensação americana da surf music, no momento, veio do espaço. São os extraterrestres do Man or Astroman? Pois é, os caras juram que são de outro mundo! Nesses casos, é melhor não contrariar. Tudo aconteceu em 1992, quando, devido a um acidente com a nave que os transportavam, eles caíram na Terra, mais especificamente no estado do Alabama, tomaram a forma humana e começaram e armar um plano de dominação. Veja o que eles dizem: “Nós reparamos que em um centro de transmissão de conhecimentos chamado por vocês, terráqueos, de universidade, regularmente chegavam umas pessoas, descarregavam equipamentos, realizavam algum tipo de experimento sônico e depois iam embora. Era disso que precisávamos: viajar pelo mundo de vocês procurando as peças perdidas da nossa espaçonave, realizando experiências para a dominação do planeta sem levantarmos suspeitas das agências governamentais, e dizer a verdade sem sermos levados a sério!” Decidiram montar uma banda, mas erros matemáticos influíram no tipo de música que passaram a tocar: “Vocês sabem, devido à grande distância entre nossos planetas e à velocidade de transmissão dos dados pelo universo, nosso banco de dados estava desatualizado em relação ao tipo de música considerado atual por vocês. Para nós, a surf music dos anos 60 é que era o moderno…” Apesar de toda essa baboseira, a verdade é que os caras fazem um som muito bom, misturando sci-fi com surf music e tendências diversas. Em 1999, quando vieram ao Brasil pela primeira vez, compraram as reedições de discos dos Mutantes e de Chico Science, e hoje se dizem influenciados por eles. No visual, lembram um pouco o Devo, de quem certamente também sofreram alguma influência. Se você curte surf music e ficção científica, Man or Astroman? é audição obrigatória.
Aqui no Brasil, a onda também está rolando, com várias boas bandas fazendo surf music para gringo nenhum botar defeito. Lá em Minas, eles inventaram o Campeonato Mineiro de Surf. Como todo mundo sabe que por ali não tem mar, o surf que rola é musical. A primeira versão aconteceu ano passado, com bandas do Rio, Curitiba e BH. Eu não pude conferir de perto, mas a rapaziada que lá esteve falou muito bem do evento. Uma das boas bandas locais é o Instrume’n’ tal. Segundo Lino, um dos integrantes, a banda pintou no cenário da surf music meio que por acaso: “A gente já tocava alguma coisa parecida com esse estilo antes de pintar essa onda atual. Nossa antiga banda, os Meldas, que tocava punk, sempre começava os shows com uma música instrumental. Entre outras, tocávamos o clássico Misirlou. E a gente sempre gostou de rock dos anos 50 e 60, tipo Ventures, Beach Boys, Trashmen, Os Incríveis… Então, quando essa onda chegou, nós ‘descobrimos’ que tocávamos surf music”. Entre as boas bandas mineiras de surf music, podemos encontrar ainda Frank Simata, Juremas e a Thesurfmotherfuckers, todas seguindo a linha punk-surfcore.
O Rio, conhecido como a Califórnia brasileira, também tem suas bandas. Entre elas, encontramos Os Netunos, que seguem a linha clássica, misturando o estilo Dick Dale com Beach Boys. Veja o que diz o guitarrista Carlos A. Monteiro sobre a banda: “Com dois anos e meio de praia, tudo o que queremos é compartilhar a alegria da surf music e de seu universo especialmente tropical, de acordes trêmulos e reverberantes, de meninas de penteados montados e biquínis retrô, de long boards deslizando ao som de guitarras chorosas. E não deixar a música de Brian Wilson, Dick Dale, dos Ventures à deriva; mas, em vez de tocar as músicas deles, mostrar o jeito como a entendemos, nas nossas próprias canções doces, felizes, tristes, cariocas, praieiras. Ainda no cenário carioca, encontraremos a banda Go!, que tri-lha no estilo tradicional, e o grupo Autoramas, que não se caracteriza como surf music, mas sim como uma banda influenciada por ela, como comenta o guitarrista e vocalista Gabriel Thomaz (ex-Little Quail): “Nós curtimos milhões de coisas diferentes, e isso se reflete nitidamente no nosso som. Usamos muita coisa da surf music, e outras que são totalmente estranhas a ela. Não queremos soar como uma banda que se encaixe em rótulos”.
Em São Paulo, há duas ótimas bandas. A 3 Dux ocupa uma praia mais ampla em termos de estilo. Anteriormente o grupo se chamava Los Sea Dux, chagando a abrir alguns shows do Man or Astroman? em sua primeira turnê brasileira. Fiel ao estilo tradicional, encontraremos Os Alquimistas, banda liderada pelo baixista do Ira!, Ricardo Gaspa, que em projeto paralelo resolveu dropar a onda da surf music. Ao contrário da maioria das bandas atuais, Os Alquimistas soam limpos e claros ao ouvido, sem exagerar nas distorções. “A princípio a banda se chamava Huntington Bitch. Huntington Beach é uma praia da Califórnia, e a idéia era fazer uma metáfora com bitch, o que traduzindo seria: As Cadelas de Huntington, em vez de Praia de Huntington. Mudei o nome para Alquimistas porque achei que era mais fácil de as pessoas lembrarem”, conta Ricardo Gaspa.
Enfim, entre outras coisas, o Brasil também é rico em surf music. Mas, como o espaço é curto, deixo aqui mais alguns nomes que merecem ser lembrados, como os Limbonautas, os Catalépticos e Stanley Dix, de Curitiba; e os Argonautas, de Porto Alegre. Mas uma vez, devo estar esquecendo alguns. Fazer o quê? Ainda no campo dos grupos internacionais, temos curiosidades como os Red Elvises (Ucrânia), The Anacondas (Amsterdam), The Cannibals (Suécia), The Dead Cats (Canadá), Husky and the Sandman (Finlândia), Lost Acapulco (México), The Naked Apes (Inglaterra) Stefetarno (França), Surf Riders (Dinamarca), Surfones (Catalunha – Espanha), Syndicate (Áustria) e muito mais.
A história da surf music é tão rica em fatos, músicas, grupos e pessoas que esta revista é pouca para tanto, seria preciso um livro. Mas acho que essa pequena introdução já é suficiente para se entender como tudo começou e o que é surf music hoje. Eu gostaria de comentar mais sobre as bandas, mas como não dá, deixei aqui alguns nomes para vocês procurarem por aí. Como o Napster anda meio fraco das pernas, minha sugestão é vocês procurarem as músicas através de um dos programas do sistema Gnutella. Vocês encontrarão vários no endereço www.gnutella.com. Recomendo o Gnucleos, que é o que eu uso. Esse sistema, além de músicas, faz uma busca em vários outros tipos de arquivos, mas para funcionar bem é preciso uma conexão rápida.
Mais informações sobre o assunto, vocês encontrarão nos sites:
www.surfmusic.com
www.pipelinemag.freeserve.co.uk (revista inglesa especializada)
www.surfbands.com
e no cowabunga
www.zptduda.com/cowabunga/index.htm, um dos sites mais completos sobre a surf music.
Para comprar CDs, o melhor lugar é o www.cdnow.com, onde se pode encontrar a maioria das bandas aqui citadas. Você também encontrará um catálogo vasto na gravadora Del-Fi: www.del-fi.com, e ainda na Rhino records, que é a gravadora do Dick Dale: www.rhino.com. Uma visita aos sites oficiais de Dale e dos Ventures também é recomendada. Bom, aí estão os caminhos para quem quiser se aprofundar mais no interessante universo da surf music. Agora é com vocês..
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