HAWAII: Início da temporada 2011
UM INVERNO DÍFICIL DE ESQUECER…
por Rosaldo Cavalcanti
fotos Bruno Lemos, Sean Davey e Tracy Kraft
O início de 2011 ficou marcado pelo tamanho e pela consistência dos swells que atingiram o arquipélago havaiano. Picos como Sunset e Pipeline quebraram sem parar. Um dos personagens que mais chamou a atenção foi o jovem John John Florence, com surf de alto nível, que mostrou uma nova troca de guarda. Waimea quebrou de gala e o “Eddie” quase rolou. Jaws aconteceu na remada, com destaque para brasileiros como o inconsequente Danilo Couto. E as lutas, como o Jiu-jitsu, estão totalmente integrados na vida havaiana. E ainda pode rolar muita onda…
LEGENDA:
“Essa onda do Haroldo é uma prova de que a palavra tem poder. Por alguns anos ele falava que um dia sairia na capa da Alma Surf pegando uma bomba de stand up no Hawaii. O tempo passou… Demorou algumas temporadas… Mas naquele sábado de 5 de fevereiro de 2011, por volta das 5h30 da tarde, antes do sol se por… Haroldo Ambrósio dropou essa “Onda Linda”. Na minha frente e mesmo sem muita luz e a câmera com velocidade baixa, a imagem saiu perfeita! Digna de uma capa de revista de surf! Da ALMA SURF!” Bruno Lemos, brasileiro radicado no North Shore de Oahu, Hawaii
Abertura (dupla 2)
UM INVERNO DIFÍCIL DE ESQUECER…
O início de 2011 ficou marcado pelo tamanho e pela consistência dos swells que atingiram o arquipélago havaiano. Picos como Sunset e Pipeline quebraram sem parar, quase que diariamente, ao longo das primeiras semanas deste ano.
Entre fatos e fotos registrados neste inverno havaiano, um dos personagens que mais chamou a atenção foi o jovem John John Florence – tem apenas 18 anos de idade –, que venceu dois campeonatos seguidos em Pipeline: “Da Hui Backdoor Shootout” e o “Volcom Pipe Pro”. Uma prova de que uma nova geração está chegando e que mais uma troca de guarda está acontecendo na Meca do surf.
No dia 20 de janeiro o arquipélago foi atingido por uma ondulação de respeito. Com as boias mostrando potencial XXL para o swell. Waimea quebrou de gala e o “Eddie” quase rolou. Mas como o pico do swell foi registrado durante as primeiras horas da madrugada, e o campeonato acabou não acontecendo.
De acordo com o meteorologista Pat Cadwell, uma dos maiores autoridades quando o tema é previsão de ondas, o fenômeno La Niña foi responsável pela quantidade absurda de ondas e pelos dias de sol e ventos favoráveis que atingiram a costa norte de Oahu durante o mês de janeiro. Pouca chuva, ventos bons e muita onda foi a tônica do início do ano no Hawaii. O fato é que o inverno havaiano deve continuar produzindo ondas com tamanho e qualidade até março.
LEGENDA:
Um inverno difícil de esquecer… Entre fatos e fotos deste inverno havaiano, aqui estão algumas imagens que comtemplaram a cena 2011.
No sentido horário: Pipeline e Backdoor funcionando perfeitamente; As múltiplas cores do North Shore; O estilo inconfundível de Rob Machado em Pipeline; Fastie Eddie conversa com os amigos brasileiros, Picuruta Salazar, Cesinha e Dê da Barra; Flynn Novak voa em qualquer tipo de onda; John John Florence levanta mais um cheque; line up de sonho no Hawaii
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Abertura (dupla 3)
BACKDOOR SHOOTOUT
John John Florence venceu dois campeonatos seguidos em Pipeline. No primeiro deles – o “Da Hui Backdoor Shootout” – John John derrotou os havaianos Kalani Chapman, Makua Rothman, Mark Healy e Fred Patacchia, antes de faturar o prêmio de 40 mil dólares. “Esta vitória significou tudo pra mim. Pipe é a minha onda favorita e eu surfo aqui quase todo dia”. Declarou John John ao receber o cheque da vitória.
O Backdoor Shootout é uma espécie de “Pipe Masters” ao avesso. Com uma estrutura simples e sem muito glamour. O “Shootout” é disputado em apenas dois dias e tem um formato original: Nenhum competidor é eliminado de primeira, e um sistema próprio permite que um surfista possa marcar mais de 10 pontos numa onda, em baterias que têm apenas 3 competidores n’água, com cada um deles representando uma equipe.
Sem falar no seu diretor de prova – o famigerado Eddie Rothman, mais conhecido como Fastie Eddie – que ninguém ousa peitar. “Aqui na America o apelido de Fastie pode ter diversas conotações. Pode ser dado a alguém que faz as coisas com agilidade, ou alguém que reage e bate rápido…”, explicou o brasileiro Geraldo Costa, mais conhecido como “Kid Peligro”. Treinador de Fastie Eddie, Kid é um famoso jornalista especializado em artes marciais, e tem passe livre entre os locais havaianos.
Apesar da vitória de John John, foi o havaiano Kalani Chapman quem surfou a melhor onda do Shootout: “Eu estava usando a minha 8’6” e remei com tudo pra aquela onda… Reef [McIntosh] ainda me perguntou se eu ia e eu disse que sim. Fiz o drope, coloquei a prancha no trilho e joguei pra dentro do tubo…”, disse Kalani. “Fui cuspido pra fora e sai festejando”.
Mesmo derrotado na final, foi de McIntosh a melhor descrição do Shootout 2011: “Foi como se eu estivesse na Disneylândia, com os meus melhores amigos”. Foi Nathan Fletcher – filho de Herbie – quem surfou a onda mais bem pontuada do evento. Um tubo longo, que lhe rendeu 11.5 pontos e garantiu a vitória da sua equipe. No frigir dos ovos, Mark Healey quase tirou o título das mãos de John John depois de uma performance espetacular na terceira fase. Mas Healey acabou em quarto lugar. “Pipeline estava perfeito. Foi a minha melhor session nos últimos anos”.
O resultado final do Shootout serviu pra mostrar que está acontecendo uma nova troca de guarda no North Shore de Oahu. Basta dar uma olhada na idade e nos sobrenomes de alguns dos finalistas: John John Florence, Kalani Chapman, Makuakai Rothman, Mark Healey e Fred Patacchia…
JOHN JOHN EM PIPELINE
Duas semanas depois de vencer o Shootout, a estrela de John John Florence brilhou novamente. Em mais um dia de Pipeline perfeito, John John derrotou o favorito Jamie O’Brien na final do Volcom Pipe Pro. Os dois são amigos de longa data. Ambos nasceram e cresceram nos arredores de Pipeline.
É claro que o fato de O’Brien ter surfado cinco baterias num só dia, depois de passar dois doente, pode ter atrapalhado seu rendimento na final. O’Brien já venceu cinco campeonatos em Pipeline e é o único surfista a ter vencido as 3 principais competições disputadas na onda mais adrenalizante do North shore de Oahu: Pipe Masters, Backdoor Shootout e o Volcom Pipe Pro. “Jamie pode tirar um 10 em qualquer onda. Principalmente em Pipeline”, disse John John. “Ele é o melhor aqui e a gente sempre se sente intimidado quando o enfrenta nestas ondas.”
Na final do Volcom Pipe Pro, John John viveu dois minutos cruciais na sua curta carreira profissional. Logo após Chris Ward iniciar a final com um tubo pra direita, John John não perdeu tempo e pegou uma boa (8.43) em Ain’ts, aquela bancada esquisita – e perigosa –, que fica entre Backdoor e Off-the-Wall.
Logo após John John pegar mais uma onda boa na final do Pipeline Pro, Jamie O’Brien surfou um tubão pra esquerda. JOB saiu no canal ainda em tempo de ver John John remando – se jogando – naquela que seria a melhor onda da final. “Eu vi John John escalando aquela onda, muito atrasado… Ele completou um drop impossível, desapareceu num cilindro perfeito e o resto é história”.
A versão de John John tem uma perspectiva diferente sobre o mesmo momento: “Vi o Jamie pegando uma da série enquanto eu voltava remando. Foi quando eu reparei que tinha outra atrás, que parecia ainda melhor que a primeira. E aí, eu disse pra mim mesmo: tenho que pegar esta onda. Remei o mais rápido e dei uma despencada, quando cheguei à base ainda estava de pé. Graças a Deus minhas quilhas garantiram a virada e eu fiz o tubo”.
De volta ao pico, com a bateria nos seus momentos finais, John John sentou ao lado de JOB e ouviu do amigo: “Agora vou tirar um dez”. Garantiu JOB. “Eu quero ver”, desafiou John John. Não veio mais nenhuma onda e John John conquistou sua segunda vitória consecutiva em Pipeline.
LEGENDA:
Uma nova matilha está dominando o North Shore. Liderada por nomes como J.O.B., John John Florence, Flynn Novak e Kalani Chapman… Esses jovens lobos estão famintos. Nascidos e criados nas areias do North Shore, eles se sentem em casa nas ondas havaianas. Na foto de Sean Davey, John John Florence em Backdoor
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Abertura (dupla 4)
20 DE JANEIRO: O DIA EM QUE O EDDIE NÃO ROLOU
Ondas grandes. Lua cheia. As marés variando muito. Vento terral. Sol brilhando. Aparentemente um dia perfeito pra realizar um campeonato de ondas grandes em Waimea… Certo? Errado. Pelo menos na opinião de George Downing, o ‘cara’ que decide o dia em que o “In Memory of Eddie Aikau” é disputado.
Surfista e salva-vidas, Eddie Aikau desapareceu no mar em 1978, depois que a Hokule’a, uma réplica da antiga canoa havaiana, afundou no canal que separa as ilhas de Oahu e Molokai, no Hawaii.
No dia 20 de janeiro de 2011 uma multidão lotou os arredores da Baía de Waimea desde as primeiras horas da manhã do dia. Apesar das ondas grandes, George Downing virou seu polegar direito para baixo indicando que o Eddie não seria realizado. Uma decisão que frustrou muita gente. Um dos pioneiros do surf de ondas grandes nas ilhas havaianas, Downing é uma lenda viva. Foi o desbravador da costa norte de Oahu durante os anos 50, e um dos primeiros surfistas a estudar os mapas de tempo para tentar prever quando, como e onde iam quebrar as melhores e maiores ondas.
Hoje em dia, Downing é uma espécie de imperador romano do surf de ondas grandes, que tem a palavra final na hora de enviar os gladiadores para dentro de Waimea, o coliseu havaiano. Onde eles enfrentam toneladas de água salgada lutando para conquistar o troféu mais cobiçado no universo do surf de ondas grandes.
Quando o Sol iluminou a manhã do dia 20 de janeiro, as séries estavam grandes em Waimea. Mas apesar de uma ou outra quase fechar a baía – fato que só acontece nos dias em que as elas têm mais de 25 pés havaianos – Downing estava mais preocupado com a consistência do que com o tamanho do swell.
Duas coisas o incomodavam. Primeiro a direção, que estava muito de oeste. Waimea gosta mais de um swell com direção norte/oeste. Em Segundo lugar, o pico do swell tinha sido registrado durante a noite passada e as boias, que ficam em volta do arquipélago havaiano, já estavam baixando.
Com a baía lotada de competidores, equipes de filmagem e uma multidão disposta a encontrar o melhor ângulo para assistir a prova, todos aguardavam ansiosos a decisão do Imperador George. E eis que, finalmente, ele anuncia sua decisão: os gladiadores seriam poupados naquele dia. “Foi uma decisão difícil, mas é Waimea, e não eu, quem decide. The bay makes the call… Not me.” E fim de papo.
LEGENDA:
Ondas grandes. Lua cheia. As marés variando muito. Vento terral. Sol brilhando. Aparentemente um dia perfeito pra realizar um campeonato de ondas grandes em Waimea… Certo? Errado. Pelo menos na opinião de George Downing, o ‘cara’.
Nesta página: Palanque montado e as primeiras horas da manhã e cenário perfeito; Kelly Slater. Tom Carrol. Carlos Burle. Garrte McNamara. E as ondas de Waimea Bay
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Abertura (dupla 5)
JAWS NA REMADA
Danilo Couto é um surfista corajoso e inconsequente. De olho no prêmio XXL na categoria de remada, Danilo chegou à conclusão que suas chances de surfar a onda do ano aumentariam consideravelmente se conseguisse entrar remando numa bomba em Jaws. Depois de passar várias semanas monitorando as condições, Danilo decidiu arriscar a sorte no dia 16 de janeiro.
Com um swell de oeste, que não é o ideal para Jaws… E acompanhado de um bando de malucos brasileiros, entre eles Yuri Soledade e Marcio Freire, Danilo botou pilha nos amigos e com sua gun debaixo do braço pulou das pedras e saiu remando pelo canal de Pe’ahi.
Lá fora, sentou-se e aguardou sua vez. Quando uma das maiores do dia surgiu no horizonte, ele começou a remar. Depois de completar o drop escapou ileso, mas altamente adrenalizado.
Considerada a arena final do surf de reboque, Jaws fica na costa norte da ilha de Maui e só começa a quebrar quando as ondas estão grandes… Bem grandes. A força da onda ao se aproximar da bancada, a velocidade do vento… Tudo torna a missão muito difícil e arriscada.
Algumas semanas depois, no dia 08 de fevereiro, um swell de norte/oeste apontou na tela dos computadores e Danilo estava novamente remando em Jaws. Depois de repetir o ritual da vez anterior, ele se posicionou no pico disposto a remar para a maior onda que surgisse na sua frente. E foi exatamente isso que ele fez…
A SESSÃO DO DIA 08 DE FEVEREIRO
Este ano o vencedor da categoria Remada do XXL deve ser um dos malucos que se arriscaram remando em Jaws, neste dia 08 de fevereiro de 2011.
Naquela manhã de inverno, Mark Healy, Greg Long, Ian Walsh, Nathan Fletcher e os brasileiros Danilo Couto, Yuri Soledade e Marcio Freire, pegaram suas guns e saíram remando pelo canal de Pe’ahi, onde quebra a onda que há anos atrás Derek Doerner batizou de Jaws.
Durante semanas, os malucos passaram horas monitorando pela internet os mapas meteorológicos. Até o dia 08 de fevereiro, quando uma ondulação reuniu as condições esperadas para quebrar alguns paradigmas.
Considerada a arena final do surf de reboque, Jaws já havia sido surfada na remada por outros surfistas. Mas neste dia épico a ordem foi definitivamente invertida e os jet-skis ficaram estacionados no canal.
“Alguns surfistas medíocres buscam a fama e a glória rebocados por jet-skis. Eu sou homem. Entro remando”, declarou o big rider havaiano Kala Alexander. Mas, Polêmicas à parte, não resta dúvidas de que o surf de reboque tem o seu lugar. E em alguns dias ele será a melhor, talvez a única opção. Afinal de contas, quando as ondas ultrapassam certo tamanho, é humanamente impossível entrar remando.
O fato é que nos últimos anos o surf de remada vem renascendo, e sendo mais uma vez respeitado como o verdadeiro desafio do homem versus natureza.
LEGENDA:
Para um surfista entrar remando numa onda em Jaws, o swell não pode estar muito grande. E, de preferência, o vento tem que estar fraco. Um dia de ondas grandes e clean, como o dia 08 de fevereiro de 2010, é o ideal. No seu auge, a boia registrou um intervalo de 18 segundos. No Hawaii, quando a boia registra intervalos acima de 17 segundos: é onda grande na certa, com no mínimo 18 pés havaianos.
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Abertura (dupla 5)
GUERREIROS DO HAWAII
Os havaianos são guerreiros por natureza e a história do Hawaii é pontuada por uma série de batalhas sangrentas. Não é a toa que os polinésios adoram as lutas e as artes marciais em geral.
Desde que Relson Gracie levou o brazilian Jiu-jitsu para as ilhas havaianas, a ‘arte suave’ é cada dia mais popular entre os locais. O número de academias e faixas pretas não para de aumentar no arquipélago e atualmente alguns brasileiros vivem de dar aulas de Jiu-jitsu para os havaianos.
Joel Tudor representa bem a ligação entre o surf e o Jiu-jitsu. Campeão mundial de Longboard, ele começou a praticar Jiu-jitsu depois que teve um problema em Pipeline. “Eu fui obrigado a brigar com outro surfista e ele sabia Jiu-jitsu. Quando eu me toquei ele já estava me finalizando. Eu não pude fazer nada e me senti vulnerável. Foi quando botei na cabeça que tinha que aprender aquele estilo de luta”.
Joel treinou durante anos até conquistar sua faixa preta. Atualmente, ele treina com o mestre Rodrigo Medeiros, em San Diego, na Califórnia. “Aprendi que o Jiu-jitsu é uma arte e fiquei fascinado pela técnica e pela filosofia que está por trás do esporte.”
Joel se declara adepto do pacifismo e seu discurso condena qualquer tipo de atitude agressiva. “Hoje em dia me sinto mais seguro e autoconfiante para encarar meus desafios. Devo isto ao Jiu-jitsu.”
No Hawaii, tem acontecido tudo de melhor, é o epicentro do mundo do surf, a Meca, e ainda muito surf vai rolar em março, numa temporada que tem tudo para continuar gerando muita onda…
LEGENDA:
Joel Tudor representa bem a ligação entre o surf e o Jiu-jitsu. Campeão Mundial de Longboard começou a praticar Jiu depois que teve um problema em Pipeline. As lutas marcam presença nas academias. Os havaianos são guerreiros por natureza.
Na página ao lado: Naquele que foi o melhor e maior Pipeline da temporada, o baiano Danilo Couto e o havaiano Dusty Payne surfaram duas bombas. Provavelmente as duas maiores do dia. Danilo vem se dedicando ao surf de ondas grandes há várias temporadas e vem conquistando respeito e notoriedade no universo do big surf. Dusty é um dos mais talentosos surfistas da nova geração havaiana
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